Restos de Colecção: Fábrica de Bolachas da Pampulha

20 de setembro de 2016

Fábrica de Bolachas da Pampulha

A "Fábrica da Pampulha" dedicada ao fabrico de bolachas e biscoitos, iniciou a sua laboração em 1872 propriedade de Eduardo António da Costa, e legalmente constituída em 1875. Estava localizada no Largo da Cruz da Rocha, entre ao Aterro da, então, Rua 24 de Julho, e a Travessa dos Brunos, no Alto da Pampulha,

Zona da Pampulha

«Foi em 1872 que Eduardo Costa principiou a luctar para acostumar o nosso paladar á bolacha genuinamente nacional. (...). Da fabrica da Pampulha, a esse tempo ainda em embryão, com machinas arrastadas e morosas na producção, começaram a sahir as primeiras latas da primeira bolacha portugueza, em competencia com a ingleza, consumida pela gente remediada e vendida cara.
Foi uma revolução. A Pampulha orgulhou-se de ter no seu seio uma fabrica que lhe dava nome. E ahi temos Eduardo Costa já conhecido no seu bairro, alargando a sua fama por todo o Portugal e estabelecendo nos ultimos annos uma filial no Porto, dirigida pelo sr. Elysio Pereira do Valle, com sede na Rua do Almada. De então para cá, cada anno conta-se por aperfeiçoamento no fabrico da bolacha; e hoje, toda a gente prefere nos estabelecimentos a bolacha da Pampulha.» in: semanário "Branco e Negro" em 30 de Janeiro de 1898.

                            Eduardo António da Costa                                                        Publicidade de 1888

              

As carroças que levavam a farinha entravam por um portão que dava para o Aterro da Rua 24 de Julho. Ao fundo de um corredor sem tecto, um elevador que transportava as mercadorias até ao terceiro piso onde estava a secção de preparação de massas, seguido do quarto piso onde se localizavam as máquinas de cortar e os fornos. Por fim, no quinto piso situava-se a secção de escolha e embalagem em latas. Este quinto piso que dava para o piso térreo na Travessa dos Brunos, donde as latas de bolachas eram carregadas em carros da fábrica para abastecimento do seu Depósito na Rua dos Retrozeiros e para distribuição aos estabelecimentos, estações de caminho de ferro e vapores no Porto de Lisboa.

                             Amassador mecânico                                                   Preparação de massas em lâminas

 

Escritório

                             Fornos para cozer bolachas                                   Escolha e enlatação das bolachas e biscoitos

 

Segundo alguns organismos oficiais e imprensa da época a “Fábrica da Pampulha” terá sido a primeira fábrica de bolachas e biscoitos do país mas … segundo o olisipógrafo Luís Pastor de Macedo, de acordo com o seu “Ficheiro Toponímico” terá sido a fábrica de José Maria de Moira, transcrevendo o olisipógrafo o seguinte anúncio (na época chamados de “Aviso”) publicado na “Gazeta de Lisboa” de 22 de Dezembro de 1817 : «Participa-se ao público que a antiga Fabrica de bolacha e biscoito, do fallecido José Maria de Moira, sita na rua nova de S. Francisco de Paula nº1 [ desde 1913 é a Rua Ribeiro Sanches], continua a trabalhar de Janeiro de 1818 em diante por conta de Francisco de Paula de Moira e Companhia; e estes esperão que os Senhores Proprietários de Navios e mais Pessoas que costumavão prover-se deste mantimento, na antiga Fabrica, lhes continuem a dar listas do que precisarem, na certeza que serão bem serviços, tanto na promptidão como na boa qualidade.»

1907

Por esta razão terá sido na rua Beco da Bolacha, que se abre frente ao nº 5 da Rua Ribeiro Sanches, na freguesia da Estrela, que existiu a fábrica de bolachas de José Maria de Moira que deu nome ao Beco.

Em 10 de Março de 1902 a revista “Occidente” escrevia:
«Excedem a trezentas o numero das diversas qualidades de bolachas e biscoitos que a fabrica da Pampulha tem lançado no mercado, como se pode ver dos mostruarios sempre patentes nos escriptorios ou nos seus depositos em Lisboa, na rua dos Retrozeiros 32 e 34 e no Porto na rua de D.Pedro, 143 e 145.
(...) Em Vienna d'Austria alcançaram a medalha de merito da Associação promotora da industria fabril; na exposição de Philadelphia em 1876 tambem foram premiados e egualmente na exposição universal de Paris em 1878. Na exposição agricola de Lisboa em 1884, obtiveram ambos os productos, bolachas e biscoitos, o maior premio e distincção, e na Exposição Industrial Portugueza de 1888 o diploma de medalha d'ouro.»

                                             1903                                                                                    1905

 

Em 1902 a "Fábrica da Pampulha" tinha 60 empregados de ambos os sexos que produziam 600 kilos de bolacha diariamente - donde se destacava a bolacha "Maria" criada em 1874 por um padeiro inglês para comemorar o casamento da grã-duquesa Maria Alexandrovna da Rússia com o Duque de Edinburgo - exportando mensalmente para África, Brasil e Índia cerca de 30 toneladas.

Eduardo Costa era amigo de Alfredo Keil pelo que não se estranhará que a “Fábrica da Pampulha” tenha feito de oferta aos seus clientes, em Março de 1890, de um retrato de Serpa Pinto e de um rótulo de “A Portuguesa”, além de ter criado as bolachas Serpa Pinto e “A Portuguesa”. A produção também exaltou valores da cultura nacional como as “Bolachas de Santo António”, do actor Taborda (1898), as Garrett  (1902) ou uma bolacha comemorativa da ópera Dona Branca (composta por Alfredo Keil sobre o poema narrativo de Garrett), para além das caixas dedicadas a Gomes Freire de Andrade ou a Bocage (1905 ?). Curiosamente, os seus produtos também veicularam valores republicanos através dos “Biscoitos Republicanos”, das “Bolachas 5 de Outubro” (1911) e  das “Bolachas Bernardino Machado”.

     

A “Fábrica da Pampulha” também foi pioneira em ofertas aos clientes para divulgação da marca, como uma bolacha em porcelana, os calendários anuais, como temas como a Partida de Vasco da Gama para a Índia, D. Filipa de Vilhena armando os filhos para a guerra, a Entrada das tropas liberais em Lisboa no ano de 1833 (1903) com retrato de Eduardo Costa e o mês de Março dedicado a Bernardino Machado cuja aniversário era a dia 28, ou ainda o Marquês de Pombal promovendo a reedificação de Lisboa (1906).

Como se pode constatar nos cartazes e anúncio publicitários seguintes, em 1911 a nova designação “Fábrica da Pampulha de Eduardo Costa Sucessor”, ou seja Ignacio Costa, após a morte de Eduardo Costa.

 

                                           1909                                                                                          1911

 

A “Fábrica da Pampulha de Eduardo Costa Sucessor” terá sido adquirida e integrada em 1917 na Nova Companhia Nacional de Moagem” - constituída em 1907 e resultado da fusão da “Companhia Nacional de Moagem” (fundada em 1904) com mais 11 empresas que já adquirira outras 11 fábricas e que viria a edificar a sua fábrica em terrenos contíguos e de ambos os lados da “Fábrica da Pampulha” - ficando esta literalmente “entalada” entre os edifícios da mesma - na Rua 24 de Julho.

A “Fábrica da Pampulha” (na elipse) literalmente “entalada” entre os edifícios da “Nova Companhia Nacional de Moagem” numa foto de 1909

Já depois de integrada na “Nova Companhia Nacional de Moagens” e numa foto em que já era “Companhia Industrial de Portugal e Colónias” desde 1919, e as ruínas do edifício da “Fábrica da Pampulha”

 A Nacional (após demolição).1

O lugar da Pampulha, que remonta aos fins do século XVI, está hoje reduzido à Calçada da Pampulha que liga a Rua Presidente Arriaga à Avenida Infante Santo e era outrora conhecida por Rua Fresca ou Rua Direita da Pampulha.

Fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdios Mário Novais),  Hemeroteca Digital, Gabinete Histórico e Cultural da Pampulha, Garfadas Online

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente trabalho. Adorei e já referi a vossa informação na minha catalogação na BPMP. Julgo ter os últimos relatórios e contas. Bom trabalho amigos. Adriano (BPMP)